Joana Guimarães foi eleita pela comunidade acadêmica com 64,82% dos votos, em consulta realizada no mês de novembro de 2017. É a única mulher negra reitora em exercício em uma universidade federal brasileira neste momento, conforme informação da Assessoria de Políticas Públicas da Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES), que engloba 63 Universidades.
“Atualmente, o quadro de dirigentes que fazem parte da Andifes é composto por 29% de reitoras, um total de 19 mulheres à frente de Universidades Federais, das quais apenas uma é negra, havendo duas ex-reitoras negras”, destacou a Assessoria de Políticas Públicas da Entidade. Esse número reflete a realidade da presença deficitária das mulheres nos altos cargos públicos e também na ciência brasileira. Embora sejam maioria como estudantes e até bolsistas de graduação, a presença das mulheres vai diminuindo ao longo da carreira acadêmica pelo predomínio de valores machistas. Isso se agrava no caso das mulheres negras, pois ocupam os piores lugares na sociedade.
A professora Célia Regina da Silva, do Programa de Pós-Graduação em Ensino e Relações Étnico-Raciais do Campus Jorge Amado, informa que, “de um universo de aproximadamente 60 mil professores universitários, nós, mulheres negras, somos apenas algo em torno de 260. Se a gente for contar na UFSB, o número de pesquisadoras negras é muito inferior ao número de não negras.”
A militante do Movimento Negro Unificado e mestranda do PPGER (CJA) Maria Domingas Mateus de Jesus reforça esses dados ao mencionar que, “até 2015, apenas 1% das docentes de universidades brasileiras era negra e, como o espaço acadêmico é um espaço de poder, reproduz o que está na sociedade brasileira, o racismo, as desigualdades. Mesmo com essa perspectiva, a professora Joana consegue chegar nesse patamar que é a reitoria de uma universidade federal.” A estudante celebra a posse da reitora, associando-a ao simbolismo dos 130 anos de Abolição e enfatizando o sentido de continuidade da luta de mulheres que negras “que vieram antes de nós como Maria Felipa, Luísa Mahin, Luiza Bairros, Lélia Gonzalez, dentre outras.” Ela sinaliza também que, em 2015, o lema da Marcha das Mulheres Negras foi Uma sobe e puxa a outra. “Ela vai puxar muitas mulheres negras junto com ela, mesmo que não se perceba fazendo isso, porque só o fato de estar lá já vai impulsionar muitas de nós”, declara.
Maria Domingas lembra que a professora Joana é do Sul da Bahia, “primeira mulher negra da região a ser eleita reitora de uma Universidade Federal. E isso é de extrema importância.” Ela completa afirmando que “a eleição de Joana é muito significativa, sobretudo para nós, mulheres negras do Sul da Bahia. Pelo que temos discutido, a representatividade realmente importa, então, ter uma mulher negra, professora universitária e agora reitora de uma universidade federal impulsiona outras mulheres que estão no universo acadêmico a tentar trilhar caminhos parecidos e a se ver também nesse lugar.”
De acordo com a professora Célia Regina, “em termos de representatividade, ter uma mulher negra nesse cargo máximo é fantástico.”
Evaldo Ferreira, servidor técnico-administrativo do Campus Paulo Freire e mestrando do PPGER, disse que, para ele, “é de extrema importância poder vivenciar a posse da professora Joana Guimarães como reitora. Nós sabemos bem que existe um déficit de participação de pessoas negras em cargos de destaque em nosso país. E sabemos também das dificuldades para se chegar a cargos dessa envergadura, pois o negro enfrenta lutas diárias contra o racismo, o preconceito e as desigualdades sociais.
Ele enfatiza que, “sem dúvida, a presença da professora Joana, uma mulher negra baiana no cargo de Reitora, impulsiona o empoderamento de outras mulheres espalhadas pelo Brasil, mulheres que buscam referência, representatividade negra. Isso significa, para a comunidade negra, a visibilidade esperada, o ecoar de vozes silenciadas por tanto tempo.” Evaldo conclui lembrando uma frase da filósofa, ativista e professora universitária estadunidense Angela Davis que, em sua opinião, “descreve muito bem o que sentimos neste momento: ‘Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela’.”
O deputado federal Walmir Assunção, do Partido dos Trabalhadores da Bahia, destacou a posse da professora Joana Guimarães na sessão de ontem (19) da Câmara dos Deputados, ressaltando a importância de uma mulher negra da região ocupar esse espaço.
Graduada em Geologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com Mestrado em Geoquímica pela Universidade Federal da Bahia e Doutorado em Engenharia Ambiental pela Cornell University (EUA) e Estágio Pós-doutoral na Brown University (EUA), a professora Joana Angélica Guimarães da Luz coordenou a elaboração do Estudo de Impacto Ambiental para construção da Rodovia Canavieiras-Belmonte, concluindo pela não recomendação diante do potencial impacto ambiental. Foi consultora na elaboração do Plano de Saneamento Ambiental de Vitória da Conquista, Presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Grande (2009-2011), Presidente do Fórum Bahiano de Comitês de Bacias (2009-2011). Foi membro da International Association of Hydrological Science como representante no Brasil da Comissão de Água Subterrânea (2006-2008). Também integrou a Câmara Técnica de Assessoramento Interdisciplinar da FAPESB (2008-2010) e foi consultora das Fundações de Amparo à Pesquisa do Amazonas e de Pernambuco. Atuou como membro da comissão que elaborou a proposta de criação da Universidade Federal do Oeste da Bahia – UFOB, encaminhada ao MEC em 2007. Foi diretora do Instituto de Ciências Ambientais e Desenvolvimento Sustentável da UFBA (2006-2011), sendo responsável pela implantação do campus Reitor Edgard Santos, em Barreiras, desde a sua origem. Foi professora da Pós-Graduação em Geociências da Universidade Federal da Bahia (2004-2011) e da Pós-Graduação em Ciências Ambientais da mesma instituição (2010-2015). Participou da Comissão de Implantação da Universidade Federal do Sul da Bahia (2011-2013) e exerceu o cargo de vice-reitora de 2013 até a eleição.
Texto: Lilian Reichert Coelho
Fotos: Mariana Leal/MEC